Parte IX - O Homem do leme.

Cada ano tem os seus desafios, no entanto posso dizer que 2023 teve para nós um inicio especialmente conturbado e desafiante! Os ventos que se formaram na parte final de 2022 surgiram a soprar forte no inicio de 2023 arrastando complicadas questões… Mas independentemente da força e direção do vento, devemos sempre procurar a melhor forma de seguir em frente!

Em Hanestad com uma temperatura de -25º... 
São duras duras as condições de trabalho durante o inverno!

A minha ideia inicial ao criar este blog foi elaborar uma espécie de cronica narrativa, com atualizações mais ou menos semestrais, a relatar os acontecimentos mais importantes e marcantes da nossa deslocação migratória em Família cá para as terras nórdicas, aproveitando para explanar alguns pensamentos e pontos de vista sobre diferentes assuntos. São pensamentos e formas de ver a realidade que tenho vindo a moldar com a experiencia de vida e também com o que vou lendo, tanto em papel como em pesquisas no meio digital. 

O meu publico alvo são os meus Filhos, sendo que dois deles ainda mal sabem ler… Imagino eu, que quando crescerem, terão alguma curiosidade em ler aquilo que o pai escrevia, muitas vezes enquanto brincavam… Talvez ao lerem possam aprender coisas praticas e úteis para a vida através das minhas reflexões e pensamento. Poderão também explorar algumas fontes de informação que vou mencionando e que tenciono continuar a mencionar. Este blog é portanto uma forma de fazer as minhas palavras viajarem no tempo para memoria futura, podendo eventualmente vir a ser lidas para lá do meu tempo de existência… 

No entanto, tornei o blog publico por forma a poder eventualmente servir de inspiração para outras pessoas ou famílias também com ideias migratórias, ou que simplesmente que tenham o prazer de acompanhar as minhas reflexões e aquilo que vou escrevinhando sobre esta nossa aventura.

Com o passar do tempo tenho reparado que o ato de apreciar a minha vida, olhando-a de fora para dentro, como se eu fosse um elemento exterior, confere-me uma interessante perspetiva permitindo-me ter uma melhor visualização e reavaliação das diferentes situações vividas. Depois sento-me, e com base nesse exercício vou resumindo os acontecimentos… Este exercício, além de me dar um enorme prazer, revivendo as coisas boas através das memorias e pensamentos que transformo em palavras, também se tem tornando numa espécie de exercício terapêutico, expurgando da mesma forma as coisas menos boas. Funciona portanto como uma ajuda para procurar pontos de equilíbrio e manter o essencial no rumo certo. Mas admito que ultimamente, em virtude de certos acontecimentos, tem sido difícil manter esse importante equilíbrio…

Visto isto, vamos então a mais um capítulo do meu blog.

Vista da nossa janela de inverno enquanto escrevo…

Assim que o verão de 2022 terminou, teve inicio uma sequencia de acontecimentos que deixavam  adivinhar grandes complicações a curto prazo. Tal como eu tinha previsto, pouco depois de entrarmos em 2023, as coisa começaram a seguir um complicado rumo que me obrigaram a fazer um reajustamento de fundo nas nossas vidas. No entanto, com algum engenho e arte, consegui ir mantendo a dinâmica familiar o mais normal possível. 

A Vida é uma sequencia de acontecimentos que muitas vezes arrastam questões problemáticas de resolução difícil. Apesar de eu estar bastante familiarizado com a presença de problemas complicados, tanto na vida pessoal como profissional, e com a frequente tomada de decisões sob diferentes tipos de pressão, a verdade é que às vezes surgem situações inusitadas com elevado grau de dificuldade que dão que pensar mais que o normal! Então, quando sou confrontado com situações desse calibre, nem sempre consigo encontrar a melhor solução no tempo pretendido, correndo o sério risco de cometer erros. 

Considero que o erro e o fracasso são dois elementos inevitáveis no continuo processo de crescimento, fazendo parte integrante do caminho de quem não está habituado a desistir. 

Sempre que alguma coisa inesperadamente corre mal, sei que tem algo para me ensinar, dando-me a hipótese de crescer e evoluir. Nessas alturas, tomo a humilde postura de eterno aprendiz, levantando a cabeça para aprender e emendar o que for possível, procurando seguir em frente da melhor maneira possível. Quem não sabe lidar bem com o erro e o fracasso, dificilmente consegue encontrar os melhores caminhos para alcançar o êxito. E quem não aprende com os erros corre o serio risco de transformar a sua vida num complicado emaranhado de problemas recorrentes!

O Mar... 

Viver aqui com a minha Família, longe da nossa terra, dá-me frequentemente a inquietante sensação que estou a navegar em mar aberto… Mesmo vivendo com os pés em terra firme e rodeado de pessoas reais, estou numa país que não fala a minha língua vincando a sensação de isolamento… E mesmo tendo feito alguns amigos, continua a pairar no ar a sensação que estamos sozinhos por nossa conta e riscos, tal como se estivéssemos a navegar em mar alto. Uma sensação que de alguma forma, talvez tenha origem na herança histórica do nosso povo, onde figuraram bravos guerreiros, que sem medo do desconhecido se lançavam mar dentro em busca daquilo que estava para lá da linha do horizonte, lançando em mim uma enigmática atração pelo mar e pelo desconhecido!

Sinto que ando por aqui a navegar atrás daquilo que não conseguia encontrar na terra que me viu nascer. Navego agora numa terra que como a nossa também está à beira mar plantada… Uma terra que também foi povoada por um povo guerreiro habituado a navegar com bravura mundo fora em busca daquilo que também eles não encontravam na terra onde nasceram.

…por do sol em Øysand…

Cá longe, nesta terra cheia de montanhas salpicadas de branco, espalhadas por entre múltiplos fiordes, sinto-me frequentemente agarrado ao leme da nossa embarcação imaginaria, navegando por entre as surreais e estranhas ondas da realidade… A realidade é um mar de acontecimentos, uns mais agradáveis que os outros, onde pelo meio vamos criando momentos de felicidade. Depois, por vezes de forma inesperada, surgem também circunstâncias criadoras de momentos mais conturbados que agitam o mar levantando complicadas ondas de problemas, ofuscando os momentos de felicidade. Quando assim acontece é necessário dar especial atenção à navegação, lançando as mãos ao leme com maior firmeza! E foi o que aconteceu… A nossa embarcação foi arrastada pelos ventos da pouca sorte, entrando numa conturbada tempestade de acontecimentos que me obrigaram a deitar as mão ao leme com a maior firmeza possível. Nessas alturas temos de nos reorganizar e fazer os ajustes necessários por forma a manter a rota certa. Navegar assim neste complicado mar alto com a Família toda a bordo é uma enorme responsabilidade… Como diziam os antigos: "Quanto maior é a nau, maior é a tormenta!" Claro que divido a responsabilidade das decisões de comando com a minha Mulher e juntos já atravessámos várias tempestades com êxito, facto que me alivia parte do peso. No entanto sinto que tenho uma responsabilidade acrescida, porque se estamos todos juntos a navegar neste mar revolto foi pela confiança depositada na minha profissão e na minha capacidade de a executar sem medos nem problemas, mesmo nas difíceis e exigentes condições atmosféricas do inverno escandinavo.

A troca de contentores por vezes com temperaturas a baixo dos -20º… O inverno escandinavo é duro!

Foi com as mãos bem firmes no leme que entrei em 2023. Navegar através dos dias na expectativa do embate das ondas fortes da tempestade anunciada é desgastante e chega a ser angustiante. No entanto consegui manter um ambiente bastante otimista e quase normal, deixando as incertezas encerradas dentro de mim. Só eu e a minha Mulher tínhamos alguma noção da tempestade que estava para vir, mas mesmo nós também não sabíamos realmente os desafios que ai vinham.

Na Família encontro a força e inspiração para resolver os mais complicados problemas!

Foi em meados de Janeiro que sentimos o primeiro embate!

Sou um homem prático e procuro ter uma abordagem positiva perante os diversos problemas que a minha vida profissional vai apresentando diariamente. O meu objetivo é levar a cabo a missão que me é dada, muitas vezes com alguns sacrifícios pessoais… Mas mesmo com as melhores intenções, ser desenrascado com o objetivo de resolver os problemas, por vezes de forma mais expedita, nem sempre é a melhor opção. Foi assim, na tentativa de resolver algumas situações mais complicadas, que acabei injustamente em tribunal… 

Normalmente nestas situações a corda rebenta sempre pelo lado mais fraco, e depois do caso transitar em julgado o resultando foram alguns meses suspenso sem poder exercer a minha profissão!  O caso esteve relacionado com questões ligadas à empresa onde trabalhava, que por princípios éticos não tenciono aqui explanar!... O certo é que fiquei sem poder exercer a minha profissão durante meses! O meu caso não é um caso isolado. Desde que cá vivo já tive a oportunidade de conhecer alguns motoristas que por diferentes motivos também passaram por situações semelhantes, sendo que num dos caso que conheço pessoalmente, por ter sido especialmente grave, ficou definitivamente sem licença de condução tendo que a tirar novamente, caso esteja interessado a voltar a conduzir. Por cá existe certas normas bastante exigentes e a lei é para cumprir!

Pacientemente a sacar peixe do fiorde…

À saída do tribunal tudo abano!  As madeiras da nossa embarcação gemiam com a pressão do momento… As ondas batiam violentamente contra o casco, abanando a embarcação e salpicando más noticias sobre nós… Os ventos fortes das despesas fixas faziam adivinhar dificuldades de tesouraria… E porque um problema nunca vem só, passados poucos dias, um dos nossos Filhos, (que tem uma frágil condição de saúde relacionada com a estrutura óssea, problema que talvez venha a abordar mais à frente), voltou a ter um pequeno acidente na escola, que o levou a ficar mais uma vez internado no St. Olavs hospital, saindo alguns dias depois numa cadeira de rodas. Situação que acompanhei de perto com a máxima atenção, tendo também eu ficado no hospital até ele estabilizar e poder voltar a casa. Duas questões paralelamente graves com origens bem diferentes que se estenderam por meses… Duas questões que deixaram revoltas as águas onde seguíamos a navegar…

Praia de Øysand durante o inverno. Por baixo do denso nevoeiro mal dá para se ver a água…  

A tempestade que caiu sobre a nossa vida decorria com ondas cruzadas e estava cada vez pior… Os ventos sopravam violentamente… O mastro que segurava a única vela que se mantinha operacional parecia não aguentar… Decidi baixar o risco e seguir à meia vela… Sentia a embarcação navegar com uma perigosa inclinação… Se a água entrasse na vela a embarcação podia perder irreversivelmente a frágil estabilidade que a mantinha a flutuar, e dava-se a tragedia… Se o mastro se partisse ficávamos à deriva e à mercê da tempestade… A nossa embarcação não podia parar e nada me fazia tirar as mãos do leme! Parar de navegar seria um problema maior que seguir pelos riscos da tempestade. É nas alturas complicadas da vida que vamos buscar forças e coragem onde não imaginamos. O mastro a gemer mas sem partir… A vela fustigada pelo vento mas sem rasgar… O barco a inclinar mas sem naufragar… E eu estoicamente sem perder o norte, seguia de mãos firmes no leme, conduzindo a nossa embarcação através das vagas da pouca sorte. Enquanto navegava, a conturbada situação limitava o meu campo visual, mas eu levantava a cabeça e olhava em frente, tentando antecipar diferentes cenários e traçando possíveis rumos para repor a embarcação a navegar em aguas mais calmas.

Mesmo nas piores situações é importante manter a postura e saber sorrir.

Quando os problemas surgem nós devemos olhar de frente para eles. Não vale a pena fugir dos problemas ou imaginar que eles não estão lá. Se fugimos eles vão atrás de nós… Se os ignorarmos eles podem piorar. Então o melhor é olhar a realidade de frente e resolve-los da melhor maneira possível.

Estar num pais estrangeiro com o encargo de uma família relativamente numerosa e ter de encarar as despesas com a incerteza de como iria manter o meu rendimento, foi uma equação difícil de resolver. Claro que a minha mulher continuou a trabalhar e sempre há umas poupanças para as emergências, mas contas feitas, levando em consideração o nível dos preços da economia local, vários meses sem o meu ordenado iria ser como atravessar um deserto com uma muito limitada quantidade de água…

É nestas alturas que se vê de que fibra somos feitos e como rege a nossa estrutura pessoal e familiar ao stress do momento… Mesmos no meio da tempestade mantive a calma procurando manter o núcleo familiar unido e com a moral em níveis positivos. Os problemas que mais me preocupam são os que podem interferir com o equilíbrio familiar.

Mais importante que olhar para os problemas é focar a atenção nas possíveis soluções. Assim, eu e a
minha Mulher demos inicio a um inevitável ciclo de conversas, algumas mais acesas a roçar a discussão, com o objetivo de encontrar novas rotas para seguir em direção ao futuro. Quando a estabilidade financeira da Família é ameaçada é criada uma pressão psicológica que dificulta clareza de pensamento. Em tais circunstâncias é fácil as conversas caírem em intrincadas discussões circulares, sem conclusões. Aqui tive de ser muito paciente e ouvir… Tentando ser o mais assertivo possível, falando apenas de possibilidades positivas tentando afastar os cenários mais negros da discussão. Visto que a origem do problema de fundo estava relacionado com a forma de funcionar da empresa onde eu trabalhava, foi com certa naturalidade que surgiu a necessidade de trocar de trabalho. Decisão tomada e dei inicio a uma pesquisa por um novo trabalho. 

Passado pouco tempo, através de uma conversa com um colega de profissão, surgiu uma excelente perspetiva de trabalho. Fiquei a saber que uma empresa de transportes ligada aos correios noruegueses estava em expansão e a recrutar motoristas experientes. Depois de uma pesquisa descobri que se tratava de uma empresa com parte de capital estatal, com boa saúde financeira e excelentes condições laborais. Candidatei-me e lá fui com a minha experiencia bem espelhada num resumido e curto currículo. Depois de duas reuniões a limar arestas, dando prova da minha experiencia, assinei contracto com data de inicio ajustada ás minhas possibilidades. Como costumo dizer, um bom profissional com a postura certa tem sempre espaço no mercado de trabalho! Mais uma vez confirmei esta minha ideia.

O caminho é feito a caminhar…

Com um novo trabalho no horizonte a tempestade começou a baixar de intensidade, mas mesmo assim ainda era preciso cuidar da recuperação do nosso filho e conseguir manter as contas em dia durante mais alguns meses, até dar inicio ao meu movo contracto de trabalho.

Sobre o nosso Cristal não costumo escrever publicamente. Não por ser segredo, aliás quem nos conhece pessoalmente sabe bem da condição do nosso Gui e nunca foi minha ideia esconder esse facto, mas porque sou da opinião que, sendo um assunto que tanto sofrimento tem arrastado, quanto menos falar sobre ele menor a dor que anda á solta… No entanto senti que talvez fosse altura de expurgar parte dessa dor abordando superficialmente esse assunto, pelo menos aqui no blog. 

Tenho alguns textos escritos, sobre este delicado e preocupante assunto, mas nunca os escrevi com a intenção de os publicar nas redes sociais. Talvez no futuro, a articulação desses textos já escritos com outros que vou escrevendo, possam vir a dar origem a um livro… Acredito que a minha escrita não tenha a qualidade literária capaz de se transformar num livro editado. Mas seja como for, hei-de deixar um documento escrito com os complicados episódios por que todos nós em Família temos vindo a passar. Nesses textos escrevo sobre o sofrimento que enfrentamos e o elevado nível de superação que em grupo temos vindo a praticar. Também tento descrever o sofrimento e Amor que presenciei ao ter entrado dentro do surreal e complicado mundo das crianças especiais.

Os manos juntos no hospital a assistir um filme… Mesmo nestas alturas mais delicadas faço por criar momentos agradáveis de união familiar.

A doença do nosso Filho é uma questão que já se arrasta à vários anos, tendo sido diagnosticada em tenra idade, atualmente está sem cura à vista. Mas claro que nos corações de Pai e Mãe, está sempre acesa a luz da esperança. Acredito que talvez um dia, a ciência apoiada pela já tão avançada engenharia genética, possam encontrar uma forma de resolver este e outros complicados problemas. O nome da doença é: Osteogênese Imperfeita, mais conhecida como a doença dos ossos de cristal. 

Ter um Filho com uma doença rara para mim já deixou de ser um problema para passar a ser uma característica. Saber transformar este complicado problema de saúde em característica, foi a maneira que eu e a minha Mulher encontramos para lidar de uma melhor forma com a fragilidade óssea do nosso filho. No entanto, apesar desta particularidade, estou certo que o esforço feito em conjunto com a minha Mulher para que o nosso Gui seja feliz tem vindo a ser alcançado. Posso afirmar sem margem para duvidas, que qualquer um dos nossos Filhos é feliz, e o Gui não é exceção. Claro que sempre que algo corre menos bem e ele vai parar ao hospital, é motivo de grande preocupação, mas por cá o sistema de saúde tem excelentes condições para responder a qualquer questão que surja. O sistema de saúde cá está muito bem organizado e equipado com tudo o que existe de mais moderno, conseguindo minimizar muito o sofrimento, tanto da criança como o nosso. Os tratamentos são sempre feito da melhor forma possível, inclusive com a deslocação de fisioterapeutas a casa para uma melhor e mais rápida recuperação. Claro que nada é perfeito, mas neste campo estamos muito melhor aqui que na terra que nos viu nascer… Devo admitir que este facto foi um dos que pesou muito na nossa tomada de decisão em emigrar. A saúde dos nossos Filhos tem sido uma das nossas preocupações prioritárias, especialmente a frágil condição óssea do nosso Cristal.

Tentar viver uma vida sem preocupações é utópico. Portanto é tudo uma questão de aceitar a realidade e seguir em frente.

Eu e o nosso Cristal durante a ultima estadia no St Olavs hospital. Mesmo aqui faço questão de manter presente um bom nível de humor!

Pelo meio de tudo isto imperava a necessidade de continuar a meter pão na mesa… 

Mesmo em condições normais, proporcionar um agradável e confortável nível de vida à família, mantendo um bom equilíbrio financeiro e simultaneamente alimentar as poupanças, já é um desafio considerável. Mas com os rendimentos momentaneamente muito reduzidos, continuar a proporcionar uma vida confortável à família foi um desafio de dificuldade acrescida onde tive de praticar uma grande ginástica financeira com alguma imaginação. 

Claro que nestas circunstâncias têm de ser feitas opções e o nosso plano de férias juntamente com as poupanças acabaram por sofrer com a situação… Mas o barco não naufragou e eu fui retificando a rota por forma a encontrar uma nova velocidade cruzeiro adaptada à nova realidade, com um novo trabalho no horizonte.

Sobre o novo trabalho, para assinar o meu contracto com a empresa tive de assumir alguns compromissos, como atualizar a minha licença de ADR, (transporte de matérias perigosas), e começar a receber as ordens de trabalho em norueguês. Então tive de reorganizar toda a nossa vida financeira para marcar uma ida a Portugal e fazer uma formação de ADR com transporte de matérias perigosas em cisterna. Simultaneamente inscrevi-me num curso online de norueguês para cumprir com o acordado. Claro que depois de vários anos a viver por cá, eu já compreendia alguma coisa, mas como desde o início me servi do inglês como língua de comunicação, o meu norueguês continuava bastante rudimentar. 

Com uma maior quantidade de tempo livre, reorganizei os meus dias para que todos os dia sem exceção, pudesse dedicar algum tempo à aprendizagem do norueguês. Optei por uma aplicação muito interessante e bem estruturada para aprender novos idiomas, o duolingo.com, mas na versão paga. Também é possível utilizar a aplicação de forma gratuita, mas vão aparecendo anúncios pelo meio das lições, facto que na minha opinião quebra bastante o ritmo de aprendizagem.

Aulas de norueguês em andamento… eu e os meus apontamentos!

Aprender um idioma novo depois dos quarenta pode ser uma tarefa desafiante e relativamente complicada. Já diziam os antigos: "Burro velho não aprende línguas!" Conhecendo esta frase e tendo-me deparado com o choque inicial da dificuldade em assimilar e compreender os sons e palavras deste novo idioma, senti alguma frustração e fui pesquisar o porquê da minha dificuldade… Depois de uma pesquisa superficial, conclui que o ditado do "burro velho" tem algum fundamento, mas na essência está errado! Realmente as crianças têm uma maior plasticidade cerebral, por isso conseguem absorver informação com muito mais facilidade. Um bom exemplo disso tem sido a facilidade com que qualquer um dos meus três filhos sem têm adaptado a este novo idioma. Depois, com o passar dos anos, vamos perdendo parte dessa plasticidade cerebral, mas não totalmente. Portanto, apesar de ser mais difícil a aprendizagem de novos conceitos em idades mais avançadas, continuamos a ter a plasticidade cerebral necessária para aprender seja lá o que for, inclusive novos idiomas. Digamos que o cérebro das crianças está mais vocacionado para adquirir informação, mas tem alguma dificuldade em processar informações complexas como complicados cálculos matemáticos ou conceitos abstratos. Por sua vês o cérebro de um adulto consegue processar bem complicados cálculos matemáticos ou conceitos abstratos, mas tem maior dificuldade em absorver coisas novas, exigindo mais trabalho, persistência e alguma tenacidade. Portanto para o efeito prefiro lembrar outra frase antiga: "Água mole em pedra dura tanto bate até que fura!"

Este processo de aprendizagem tem sido muito interessante. A faze inicial revelou-se complicada, mas à medida que fui ganhando vocabulário as coisas começaram a ganhar uma interessante clareza, conseguindo melhorar o meu progresso. A sensação que tive foi que a minha evolução estava a ganhar bom ritmo ao nível da compreensão, mas o mesmo não estava a acontecer ao nível da minha destreza para falar, sentindo alguma dificuldade na prenuncia.

Muito embora ainda sob o efeito da tempestade, senti que conseguimos dominar a nossa embarcação de forma a recoloca-la na rota certa. Foram dias muito complicados agarrado ao leme. Mesmo havendo uma significativa mudança de ventos, ainda se agitavam as inquietantes ondas da incerteza. Mas ao estender o olhar já conseguia observar com clareza a linha do horizonte, sentindo firmeza e confiança no futuro. Bons ventos começaram a soprar…

Para descontrair destes tempos mais agitados, já que os miúdos tiveram umas pequenas ferias de páscoa, decidimos aproveitar o bom tempo e passar uns dias na nossa pequena praia. Em Abril teve oficialmente inicio a época Primavera / Verão do nosso camping. A partir de Abril tudo passa novamente a funcionar a 100%. Refiro-me ao café, ao restaurante, ao mini mercado, etc...

Øysand Camping, ainda com alguma neve.

Foram uns dias muito bem passados em Família. 
Todos aproveitamos para descontrair, cada um à sua maneira. As crianças andaram à vontade pela praia a brincar e a correr, chegando a querer ir ao banho. A minha Mulher dedicou-se a organizar o interior da nossa rulote, intercalando com generosas quantidades de tempo a descontrair ao sol enquanto contemplava a natureza e o nossos filhos a saltitar pela praia. Eu e o meu mais velho estivemos a reunir os enormes detritos naturais que por ali vão dando à costa, limpando a praia. Depois foi parti-los em pedaços mais pequenos e queima-los na fogueira criada para o efeito. Deu para descontrair e descarregar as más energias através da bruta utilização do machado! E mais ao final do dia, ficar calmamente sentados ao lume a apreciar o por do sol…

Eu a descarregar energia… mantendo assim clareza no pensamento! 

O meu mais velho a trabalhar… também tem de aprender a descarregar energia na altura certa.

Os mais novos corajosamente a banhos nas frias e cristalinas águas do fiorde…

Fim de dia em Øysand.

Quando duas metades se juntam e se completam, a vida ganha mais cor.

Que o futuro traga os ventos da mudança e nós cá estaremos prontos para navegar em direção ao futuro.

Já não falta muito para sair desta complicada tempestade... O problema ainda não está completamente ultrapassado... 

Cabeça erguida e juntos vamos enfrentar o que o vento trouxer!

João Ferreira
11/04/2023
Øysand - Noruega







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