Parte X - Gabinete de problemas.

Será possível viver uma vida sem problemas?


Lago Hurdalsjoen, durante o inverno.

Quando tudo parece correr bem e os ventos dos acontecimentos sopram favoravelmente, a vida é uma maravilha! Quando assim é até dá gosto acordar cedo sem um motivo específico! Uma vida assim seria um verdadeiro mar de rosas… Mas todas as rosas têm os seus espinhos, e essa vida ideal é utópica! Portanto para se ter um mar de rosas disponível é imperativo aprender a lidar com uma imensa quantidade de espinhos!

A dura realidade muda os ventos com frequência e muitas vezes os acontecimentos começam a entrar em choque com os nossos planos. Sinto que o universo tem uma especial vocação para criar problemas, de tal forma que é relativamente normal surgirem vários ao mesmo tempo, sendo assim é importante saber como lidar com o constante fluir de acontecimentos inesperados…

Considero que a criação de momentos de Felicidade está mais ligada à forma como aprendemos a lidar com os problemas, do que com a sua ausência. Esperar pelo dia em que tudo estará resolvido para se ser feliz é uma perca de tempo… 

Esse dia sem problemas poderá nunca chegar!


Praia de Øysand, durante o inverno.

Conseguir criar momentos de Felicidade ao mesmo tempo que navegamos neste mar de problemas chamado Vida, é uma arte que tenho vindo a aprimorar com o passar dos anos!


Em Øysand…


Considero que é fundamental ter boas bases onde possamos construir e estruturar a nossa Vida, criando um saudável equilíbrio entre a rigidez e flexibilidade da estrutura. Esse equilíbrio é importante para se conseguir lidar com o fluente stress dos dias sem quebrar, permitindo assim a verticalidade necessária para seguir em frente! Muitos desses stressantes acontecimentos, tem origem em factos que estão fora do nosso controle, no entanto é possível controlar o stress resultante. Isso está dependente da forma como olhamos para os problemas e da nossa percepção relativa da realidade e da Vida.

Uma parte importante dessa equação é a nossa arrumação interior. Quando o nosso interior não está bem organizado podem surgir confusões e questões desnecessárias. 

A manutenção da nossa ordem interior é algo a que tenho dado uma atenção especial. Para o efeito criei uma forma peculiar de dialogar com os meus problemas.


Øysand…

Quem tem acompanhado o meu blog, lembra-se certamente de quando escrevi sobre a minha Oficina de Sonhos. 

Com o constante fluxo de problemas, sou frequentemente forçado a reavaliar alguns dos meus sonhos, e por vezes até a proceder a alterações nos projetos que já estão em curso. Assim decidi criar um gabinete destinado exclusivamente à receção e avaliação de novos problemas, localizado dentro da minha Oficina de Sonhos. 

Esse gabinete é constituído por antigas versões minhas, com as quais me reúno para encontrar soluções viáveis desenhadas á medida de cada problema. Podia ter construído um anexo num qualquer recanto da minha mente, mas decidi que a posição privilegiada e bem iluminada da minha Oficina de Sonhos seria o local indicado para o efeito.

A divisão é fechada porque não quero problemas a vaguear pela minha mente… É uma espécie de sala de interrogatório, com uma janela espelhada, através da qual estão as minhas versões antigas a ouvir e a observar. 

Sempre que um novo problema surge é logo encaminhado para essa sala e encarado de frente. 

Fingir que um problema não existe é má opção. Quando deixamos problemas a vaguear eles podem crescer e criar novos problemas. Também não vale a pena fugir dos problemas… eles vão sempre atrás de nós e eventualmente ficando mais complicados! 

Os problemas devem ser encarados sem medo e com firmeza! Se um problema sente que estamos com medo pode começar a crescer e a absorver importância… mas uma atitude firme fá-los diminuir de tamanho.  Hostilizar os problemas também é uma perca de tempo. 

Os problemas devem ser recebidos com o à vontade de quem sabe aquilo que está a fazer, isso tira-lhe parte da importância, dando-nos uma posição confortável para iniciar a sua avaliação. Essa atitude vai sendo aprimorada com o passar dos anos!... 

O objetivo inicial é, através de uma conversa amigável, identificar e tentar entender o problema.

Normalmente, depois de uma de uma abordagem inicial, é possível alterar o seu status, passando a ser um problema resolvido, ou um problema em resolução, ou então um problema sem resolução aparente, sendo neste último caso convidado a despir as vestes de problema para passar a ser uma nova característica que tem de ser aceite até ao surgimento de uma eventual solução. 

Nesta fase é importante separar os problemas cuja sua resolução depende de nós, daqueles que não são possíveis de controlar. Por exemplo: se o problema está diretamente relacionado com o clima, como muito calor, ou um forte nevão, ou ventos violentos, ou chuvas torrenciais, etc...  Isso são situações incontroláveis, portanto deixam logo de ser problemas e passam a ser vistas como características. Assim devemos simplesmente aceitar essa característica, e ver qual a melhor forma de lidar com a situação. 


Situações...


Sou da opinião que quem se queixa muito do clima está eventualmente a tentar esconder outros problemas. Portanto devemos aceitar as características que não dependem de nós e concentrar a nossa atenção naquilo que podemos controlar e que depende diretamente de decisões e ações nossas!

Depois reúno com as minhas antigas versões para analisar e tomar as decisões possíveis sobre o problema em análise. Nessa altura ouço cada uma das opiniões lançadas, mesmo aquelas que à primeira vista possam parecer parvas ou desproporcionais, apontando tudo em papel. É vantajoso ter diferentes pontos de vista baseados nas minhas vivências passadas. Às vezes a solução pode estar numa apreciação mais simplista típica de adolescente, que depois de refinada pela experiência de vida entretanto adquirida, possa vir a ser uma interessante solução.

De seguida passo a reanalisar cada uma das soluções lançadas, fazendo uma primeira seleção pela negativa, ou seja, vou eliminando as piores, ficando com as mais viáveis, até ter um número reduzido de soluções possíveis. Dessas restantes escolho a melhor, assumindo imediatamente um compromisso pessoal perante a decisão tomada. Esse compromisso é de elevada importância. Sou da opinião que nunca devemos enganar outras pessoas nem faltar aos nossos compromissos, mas pior que enganar os outros, é viver uma vida em que nos andamos a enganar a nós mesmos.


Em Øysand…


Para finalizar o processo, reúno com a minha Mulher para as decisões finais. Como muitos dos problemas estão relacionados direta ou indiretamente com a nossa vida familiar, é de elevada importância reavaliar exaustivamente  todo o problema em conjunto, expondo as minhas conclusões e ouvindo a sua opinião. Só assim será possível tomar a decisão final!


Quando duas metades se juntam!

Assim, com a criação deste gabinete, tenho conseguido fazer uma melhor gestão do constante fluxo de problemas e questões que a Vida nos vai apresentando!

Termino com a mesma pergunta que fiz ao inicio:

Será possível viver uma Vida sem problemas? A minha resposta é um redondo NÃO! No entanto é possível construir uma vida cheia de momentos de Felicidade, desde que se saiba como lidar com o constante fluxo de problemas! 

Mas nunca devemos esquecer que sem AMOR é muito difícil construir seja lá o que for!


O caminho é feito a caminhar, independentemente das dificuldades!


João Ferreira
15/01/2024
Gimse - Noruega

Comentários

  1. Fazemos uma boa equipa na resolução de problemas 💪💪 mas preferia passar alguns😜 Amo - te sempre ❤️

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  2. Atrevo-me a dizer que o teu mestrado em psicologia é visível 🙃!
    Evidenciaste pontos fulcrais,que geralmente são tomados como "banais" ou então um "luxo"...mas assim é, devido aos nossos conceitos individuais,de tais coisas. Ė aqui que reside tudo, a nossa individualidade..e a forma como a escolhemos trabalhar e viver. O que damos ao universo..ele retorna.. porém na sua linguagem e tempo! E por isso, concordo, que no mix que é a "vida", o percurso diário é o mais importante e por isso,antes de escolher ser feliz só ao alcançar as metas, acredito que devemos sempre festejar todos os passos que damos até lá.. simplesmente porque só podemos verdadeiramente, viver no tempo presente!
    Beijos e abraços a todos🙂

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  3. Gostei do que li.
    Dá para refletir sobre a vida.
    O último Templário.

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