Parte VI - 2020 um ano memorável.

Ter voltado ao serviço internacional foi uma aposta ganha que durou cerca de um ano. Não foi um desfio fácil, mas consegui superar todos os obstáculos e alcançar para lá dos objetivos inicialmente traçados. Admito que nas alturas mais complicadas, e não foram poucas, dava comigo a pensar se teria sido uma boa opção, mas nunca pus a hipótese de desistir encontrando sempre forças e motivação para seguir em frente. 

Depois de variadas conversas com o objetivo de avaliar a nossa situação, eu e a minha Mulher decidimos que já tínhamos alcançado e consolidado a estabilidade mínima pretendida sendo a altura de terminar a ultima fase de adaptação e passar a ter um trabalho que não me obrigasse a passar semanas longe da Família. Marquei então uma reunião na empresa com o objetivo de renegociar a minha posição, dando inicio a novas funções por forma a ter mais tempo disponível para dedicar à Família, pondo assim um ponto final nas viagens de serviço internacional. Foi no final de 2019 que fiz a minha ultima viagem relacionada com as mudanças ao nível internacional.

As minhas novas funções na empresa eram relacionadas essencialmente com o transporte de contentores, executando entregas e recolhas nas industrias locais. Com um agradável horário entre as 8h e as16h e todos os fins de semana em casa, tinha finalmente tempo de qualidade disponível para dedicar á Família. Por cá já tinha ouvido dizer que este é o país dos três oitos, porque normalmente dividiam as vinte e quatro horas do dia em três partes: oito horas a trabalhar, oito horas dedicadas á vida pessoal e familiar e oito horas a dormir. Claro que com este horário também o meu vencimento levou um corte, mas mesmo assim continuava a ter um bom vencimento. A vida ensinou-me que quantidade não é qualidade, portanto para poder ter uma melhor qualidade de vida tive que baixar a quantidade de horas que passava a trabalhar, baixando também o meu salario, criando assim um equilíbrio saudável entre o valor que recebia e o Amor que conseguia partilhar em Família. 

Saber encontrar pontos de equilíbrio é um fator muito importante para uma vida familiar saudável. Considero que o equilíbrio familiar é um fator que ajuda muito a criar momentos de felicidade que dessa forma surgem com maior frequência e naturalidade. Um ambiente abrilhantado por sinceros momentos de felicidade é o melhor ambiente para criar crianças saudáveis e felizes. Muitas ou quase todas as nossas decisões importantes têm sempre o bem estar dos nossos Filhos em conta, e esta decisão foi mais uma dessas decisões. Entretanto também a minha Mulher arranjou um trabalho, mesmo não sendo a tempo inteiro, sempre foi mais um rendimento que se veio juntar ao orçamento familiar, ajudando a minimizar o corte que tive no meu salario, dando mais força à decisão tomada.

Sem ter na altura uma real noção, esse foi o timing ideal para tal alteração, pois foi exatamente por essa altura que os problemas relacionados com a pandemia de covid19 tiveram início. Desta forma vi-me livre das muitas complicações que quem continuava no serviço internacional tinha de ultrapassar para atravessar fronteiras. Além de poder estar junto da Família para tudo o que fosse preciso. 

Foi uma altura bastante complicada, com as escolas encerradas e a Família fechada em casa. Como em grande parte dos países, também por cá o comercio ficou relativamente parado, tendo parte da economia ficado suspensa. Como parte do meu novo trabalho estava relacionada com o reabastecimento de superfícies comerciais de bens de primeira necessidade, eu nunca cheguei a parar, podendo manter sempre o orçamento familiar bem equilibrado.

Foi com muita cautela e preocupação que fomos acompanhando o evoluir da situação. Entretanto o trabalho que a minha Mulher tinha acabado de arranjar ficou em suspenso em virtude das escolas estarem temporariamente fechadas, forçando-a ter de ficar em casa com os nossos filhos. Em contrapartida o meu trabalho nunca teve quebras, até pelo contrario, cheguei a ter que fazer algumas horas exta para levar a cabo todo o trabalho de distribuição que entretanto aumentou, talvez por parte da população se ter dedicado a armazenar alguns suprimentos extra sem saber ao certo o que por aí vinha.

Apesar de todas as complicações relacionadas com a pandemia que se fizeram sentir um pouco por todo o globo, o ano de 2020 até foi um ano bastante positivo para a nossa Família. Foi no decorrer de 2020 que nós terminamos a nossa difícil adaptação a este exigente país, e foi também no decorrer desse ano que nós fizemos as nossas primeiras férias grandes em Família depois da nossa deslocação para cá. Com o evoluir da situação, as coisas foram voltando ao normal, mas mesmo assim as fronteiras continuavam cheias de restrições e os voos uma enorme confusão. Factos que nos levaram à decisão de fazer as férias cá pela Noruega. Depois das variadas viagens que já tinha feito de norte a sul, sabia que este país tem um enorme número de locais de interesse, sempre com belas paisagens como pano de fundo. Em conversa com uma Família amiga, decidimos ir todos até uma zona especialmente bela localizada bastante a norte, situada já dentro do Circulo Polar Ártico. O local escolhido foi Lofoten. 

Lofoten é um arquipélago composto por várias ilhas montanhosas cheias de belezas naturais e locais de interesse. Além das altas montanhas, Lofoten também tem belas praias com agradáveis areais, banhadas pelas límpidas águas dos Mares do Norte, onde é possível acampar e pescar. Para lá chegar tivemos de fazer uma longa viagem de carro até Bodø e depois uma travessia de três horas num ferry. A certa altura da travessia surgem recortadas no horizonte as extraordinárias e belas montanhas que compõem as ilhas. Mesmo no verão os picos mais altos continuam a exibir os topos brancos. 

Durante a travessia de Bodø para Lofoten...

Durante os meses de verão esta zona do nosso planeta não tem noite, havendo portanto 24 horas de sol. Foi lá que pela primeira vez eu e a minha Família tivemos a oportunidade de ver o sol da meia noite. É um bizarro fenómeno natural em que o sol nunca chega a tocar na linha do horizonte. Com o adiantar das horas o sol vai baixando mas chega a um certo limite e volta a subir. Depois no outro dia volta a descer, completando um percurso em circunferência no céu no decorrer das 24h do dia, nunca chegando a dar origem à noite. Recordo-me que no material de campismo adquirido especialmente para esta ocasião, também fazer parte algumas lanternas. Escusado será dizer que as tais lanternas nunca chegaram a ter utilidade…   

Por lá também podemos ver os extensos campos de secagem de peixe, nomeadamente do nosso tão apreciado bacalhau. Cheguei mesmo a fazer uma viagem num barco turístico destinado à pescar no mar alto, onde cheguei a pescar um belo exemplar, que apesar de não ser um bacalhau era da família do bacalhau. 


Fotos de alguns restaurantes em Lofoten…





À porta do Anita's Seafood.

Aproveitamos uma tarde para visitar o Sund Fiskerimuseum, um museu onde se pode ver antigos barcos relacionados com a pesca em geral e também muitas coisas relacionadas especificamente com a pesca e secagem do bacalhau. Durante a nossa estadia em Lofoten fomos a diferentes restaurantes onde o prato principal era o peixe. Lá experimentei das melhores sopas de peixe que provei em toda a minha vida. Recordo um restaurante em especial, de nome Anita's Seafood, onde parte da decoração era feita com bacalhaus secos pendurados nos candeeiros e um velho camião carregado de bacalhau seco estacionado mesmo à porta. Tudo ou praticamente tudo naquelas ilhas estava relacionado com a pesca e em especial com o bacalhau por lá chamado de torsk.



Foram sem duvida umas férias memoráveis, tanto para nós adultos, como para as crianças. Foi de tal forma, que ainda hoje os meus filhos falam da viagem a Lofoten, e sempre que comemos peixe perguntam se vem de Lofoten.

Mais algumas fotos de Lofoten...





Um brinde ao Sol da Meia Noite...


Quando traçamos um objetivo devemos manter o nosso foco independentemente das influências negativas que possam surgir. Tem sido assim que temos pautado a minha vida e o ano de 2020 não foi diferente. Apesar da conjuntura geral ser de influência bastante negativa, eu e a minha Família conseguimos transformar esse ano num ano memorável nas nossas vidas.

2020 foi portanto um marco importante nas nossas vidas. 

Foto quando atravessamos a linha limite do Circulo Polar Ártico.


Viver é como comandar um barco à vela! Nem sempre o vento está a nosso favor, no entanto, mais importante que a direção do vento é saber qual o rumo a tomar. Para tal é importante saber navegar e traçar a rota certa independentemente da direção do vento. Nós não controlamos a direção dos ventos, mas podemos controlar a direção das nossas vidas através da forma como lutamos e nos mantemos fiéis aos nossos objetivos. Manter o foco e a motivação é muito importante para seguir na direção pretendida.

Muitas vezes há ventos que são soprados por forma a guiar a maioria numa determinada direção, mas é nossa a decisão de ser comandado ou ser o próprio comandante das nossas vidas.

Saber o que queremos e saber lidar com os ventos contrários ajuda muito a dar sentido à vida.



João Ferreira
18/05/2021
Heimdal - Noruega

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